Carne vermelha e incidência de câncer

 Ponto para os vegetarianos. Um estudo do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos indica que comer carne vermelha em forma de bifes ou carne processada – como hambúrguer, bacon, lingüiças e salsichas – aumenta o risco de surgimento de tumores malignos não só no intestino, mas também em outros órgãos do aparelho digestivo e no pulmão.

 Os resultados do estudo, publicados esta semana pela revista PLoS Medicine, confirmam a associação estatisticamente significativa entre consumo de carne vermelha e câncer no intestino, verificada em estudos anteriores. A nova pesquisa indica que o risco associado a esse hábito alimentar se amplia também ao surgimento de tumores em outros órgãos.



 A conclusão vem da análise de questionários aplicados a 494 mil pacientes monitorados pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) que tinham entre 50 e 71 anos. Os pacientes responderam a perguntas sobre seus hábitos alimentares ao longo do ano anterior; eles foram monitorados ao longo dos oito anos seguintes. Nenhum deles tinha câncer quando os questionários foram aplicados; cerca de 53 mil desenvolveram tumores malignos nos anos seguintes.

 Para investigar se havia alguma associação estatisticamente significativa entre a incidência de câncer e os hábitos alimentares, os participantes foram divididos em cinco grupos, em função do volume de carne consumida. A comparação entre aqueles que mais comiam carne e aqueles com o menor consumo apontou um maior risco de surgimento de câncer colo-retal, de fígado, pulmão e esôfago. Quando os participantes foram divididos em função do consumo de carne processada apenas, a única associação estatisticamente significativa encontrada foi entre o câncer colo-retal e o de pulmão.


 Surgimento do tumor


 Os pesquisadores não sabem ao certo como a associação estatística se traduz em escala molecular. “Existem muitos compostos na carne vermelha que são capazes de danificar o DNA”, afirma à CH On-line Amanda Cross, autora principal do estudo. Segundo ela, a gordura saturada e o ferro presentes na carne vermelha são substâncias geralmente ligadas à carcinogênese (formação de câncer) por alterarem o balanço energético do organismo e gerarem radicais livres que induzem o estresse oxidativo nas células, o que pode levar ao desenvolvimento de um tumor.

 Para Cross, outros agentes químicos, como compostos nitrosos e aminoácidos, poderiam provocar possíveis mutações celulares. “Os compostos nitrosos são formados pelo nosso organismo depois da ingestão da carne. Já alguns tipos de aminas e hidrocarbonetos são formados antes, quando a carne está sendo preparada a temperaturas altas, como em churrascos”, diz a pesquisadora.

 Segundo os autores, a moderação do consumo de carne poderia evitar até um em cada dez casos de câncer de intestino e pulmão.“É importante destacar que estamos lidando com um fator de risco que pode ser modificado e casos que podem ser evitados por uma alimentação mais saudável”, ressalta Cross.

Fonte: CH